sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O Fantástico na Ilha de Cascaes

Após trabalhar com as lendas do livro Lendas e Causos de Santa Catarina, o 2° ano do ensino médio matutino da escola Carlos Maffezzolli partiu para os contos com Franklin Cascaes.
As atividades iniciadas em agosto tinham como propósito retomar os contos da Ilha de Santa Catarina, introduzindo o gênero textual contos. O livro O Fantástico na Ilha de Santa Catarina de Franklin Cascaes traz histórias fascinantes envolvendo bruxas: grande personagem do folclore local.
O grande pesquisador da cultura açoriana, Franklin Cascaes, nasceu na praia de Itaguaçu em Florianópolis e teve seu trabalho divulgado apenas aos 66 anos de idade. Além da cultura açoriana em Santa Catarina, Cascaes também dedicou sua vida aos estudos sobre religião, visando os aspectos folclóricos e culturais. Em seus contos, utiliza-se da fonética para reproduzir a variação linguística local.
Os alunos tiveram contato com dois contos do autor: Vassoura Bruxólica e Velha Bruxa Chefe. Segue o conto da Vassoura Bruxólica:

Vassoura Bruxólica (1946)[1]
(Franklin Cascaes)

"É, neste mundo de Deus, há muitos mistérios e esta gente simples aqui da Ilha vive estas coisas quase como uma realidade. Meus lobisomens, bruxas, demônios e boitatás existem". Sempre foi crença do povo hospitaleiro desta Ilha dos famosos bois de mamão que, na Sexta-Feira-Santa, não se deve tomar instrumentos de trabalho para usá-los, seja qual finalidade for. É também costume tradicional deste povo, descendentes de colonos açorianos, que, na Sexta-Feira-Santa, a partir de zero hora, devem banhar-se nas ondas do mar, levando consigo animais domésticos, para purificarem-se e protegerem-se de todos os males do corpo físico e espiritual. As águas colhidas nesta hora servem para todo o tipo de cura. É a fé, longínqua dos tempos, aliada a superstição, ao medo e ao amor pela conservação do corpo físico, na cura dos males que atacam o homem em franca vivencia espiritual e física com o seu Deus. As forças atuantes de práticas religiosas freiam os instintos animalescos do homem, encaminhando-o, espiritualmente, para viver com bons modos junto com o seu Deus, com a cultura, na sociedade e consequentemente com o seu próximo. Entrementes, sempre aparecem nos meandros desses cenários fantásticos, e outros moderados, pessoas que se arrojam contra os poderes divinos, maltratando esses conjuntos de sociedades freadoras, veículos insubstituíveis de abrandamento de sofrimentos que martirizam e acoitam a criatura humana. Um caso de desrespeito espiritual aconteceu há muitos anos passados, lá pras bandas do sul da Ilha de Santa Catarina. A Maria Vivina, moradora da praia dos Naufragados, fez uma aposta com a Carrica, de que, na Sexta-Feira-Santa daquele ano, ela tomaria uma vassoura e com a mesma, varreria o quintal de sua casa e, certeza tinha, nada lhe aconteceria de extraordinário. Apostaram um par de tamancos contra uma botina. E firmaram a promessa da aposta, casando-a. Quando a Vivina deu a primeira varredela, a vassoura soltou-se de suas mãos qui nem um relâmpago, metamorfoseou-se em bruxa, ganhou altura sobre o morro do Ribeirão da Ilha e desapareceu, num repente, no espaço sideral das alturas incomensuráveis da quimera. A Maria Vivina caiu de joelhos no terreiro, rezou e pediu perdão aos céus pelo ato impensado que havia cometido contra as ordens divinas, chorando copiosamente. A Carrica abraçou-se com ela e ambas choraram e sentiram o amargo do néctar da desobediência humana. Nenhuma das duas era bruxa, porque a vassoura, que e um instrumento de montaria de bruxas, foi embora, viajar pelo espaço sideral, sozinha. Oh! Minha querida Ilha de Santa Catarina de Alexandria, és a graciosa sereia que repousa sobre brancas areias de comoros errantes, sambaquis seculares, banhada pelas ondas acasteladas do oceano, perfumada pela brisa acariciante dos ventos e enxuta com as toalhas felpudas dos raios solares que beijam calorosamente seu corpo mitológico”.



[1] Em O fantástico na Ilha de Santa Catarina (2014), você encontra este conto nas p.85-7.

Livro "Lendas e Causos de Santa Catarina"

Livro "O Fantástico na Ilha de Santa Catarina"

Franklin Cascaes 

Imagens do livro "O Fantástico na Ilha de Santa Catarina"
Imagem do conto "Vassoura Bruxólica"
Imagem do conto "Velha Bruxa Chefe"



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